segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O tempo


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Essa medida que é tão palpável e tão efémera ao mesmo tempo. Com a idade vamos percebendo que ele anda à nossa volta e nem sempre temos mão nele (quase nunca mesmo). Quando somos adolescentes queremos ter dezoito, aos dezoito queremos ter mais, para sermos independentes e quando o somos queremos reviver os dezoito com o que sabemos aos trinta, aos cinquenta queremos voltar aos trinta com a sabedoria dos cinquenta...e por aí fora. Queremos sempre mais ou menos, porque a balança do tempo não tem equilíbrio possível.

Ontem ouvi uma pessoa dizer “Só tenho 7 meses e quero vivê-los bem”. A frase caiu-me como uma pedra no estômago. Confesso que o meu dia não estava a ser fácil, porque às vezes sou impulsiva em demasia e acabo por desiludir pessoas e consequentemente desiludo-me a mim mesma. O que ela disse e a forma como o disse despertou-me da neblina que me rodeava. Fiquei estática no sofá e a primeira coisa que me ocorreu, não foi ‘e se eu só tivesse 7 meses?’, mas sim ‘e se quem eu gosto apenas tivesse 7 meses?’. Os meus olhos encheram-se de lágrimas e o meu peito prendeu-me a respiração. Senti-me impotente...porque na realidade não sei por quanto tempo terei as pessoas de quem gosto comigo. Não sei eu, nem sabe ninguém. Levantei-me e dei uma volta pela casa, a minha casa e vi que nem todos aqueles que amo a conhecem, vi que a minha casa não tem fotografias, sei que as guardo todas na mente, mas não chega. O meu corredor enorme vai ter quem amo lá. Ainda não sei como, mas vou conseguir. Voltei ao sofá. Agarrei no telefone mas não liguei. Queria pedir desculpa, mas sei que era uma daquelas vezes que a pessoa do lado de lá diria que não há nada a desculpar, que está tudo bem. Queria ligar na mesma. Não liguei e sorri. Há pessoas que por mais que façamos, vão gostar de nós acima disso. Na televisão alguém faz comédia. Não me apetece rir, vou à janela. Está frio, muito mesmo, abro a janela. O frio gela-me a cara, a única parte fora da manta polar. Ahhh o frio....o privilégio de senti-lo. Dou meia volta, encosto-me e olho novamente a minha casa. Dá-me boas sensações esta casa, fico feliz por tê-la escolhido. Fecho a janela, sento-me no chão e rio-me sozinha porque oiço uma viola a tocar. Não está ali, mas é como se estivesse. 7 meses...o que são 7 meses? Nada, ou tudo. Há semanas atrás conheci alguém, que sem avisar tornou-se importante para mim, e dias depois me disse que daí a semanas iria embora. Não para sempre, mas ainda assim, embora. Não consigo estar triste, apesar de ser uma pessoa que sente muitas saudades de quem gosta, também fico feliz por eles seguirem sonhos. Ao ouvir ‘só tenho 7 meses’, o tempo ganhou um novo tom. Fica entre o verde e o azul, com pinceladas de vermelho. Deu uma volta e não me voltou a colocar no mesmo lugar. Voltei ao sofá e acrescentei mais uns centímetros ao coração, acho que nos próximos tempos vou precisar.

A mesma pessoa, talvez sem se dar conta, uma noite destas disse ‘Às vezes o tempo passa devagar’. Em alguns casos ainda bem...

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