Apetece-me escrever mas a mão dói-me. Oiço-a pedir clemência, como uma dobradiça enferrujada pede óleo. Quero escrever mas os olhos pesam, as mãos percorrem o pescoço e encosto a cabeça no sofá. O tecto já não é branco, por ele passam imagens que nem eu sei onde estavam, mas o certo é que as vejo. Uma dor aguda assoma no anelar...que fica imóvel durante breves segundos...e as imagens mudam. A mão encosta e segura a cabeça. Não quero pensar, mas é impossível. Penso no que se segue, sem evitar ver o que vai ser. Gosto do que vejo, apesar do cansaço o sorriso aparece. Tiro os ganchos q me prendem o cabelo e as mãos entram sem pedir licença. Num gesto que parece ser em câmara lenta, fico de lado na almofada, meio torta, mas não me importo. Ninguém está a ver...e se visse? O segredo é não ter de pensar no que vai ser pensado. Sem querer dou por mim a pensar numa pessoa. Encerro os olhos na tentativa de perceber a razão de a ter e encontro-a na parte de dentro das pálpebras. A razão está quietinha a um canto e sorri para mim. A mão dá de si...já não aguenta mais. Dou-lhe tréguas e agradeço a paciência que teve. À razão dou-lhe razão. Sim é por isso.
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