domingo, 27 de dezembro de 2009

You inspire me.

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A minha cidade é velhinha mas bonita, dá-me calma quando preciso, luz quando peço, imagens que me fazem fixar memórias e pessoas que me mostram o que sou. A minha cidade faz-me tropeçar e quase deixar cair o café que trago na mão, porque quer que eu troque as palavras que tanto uso, com um sem-abrigo que ali está. O frio aleija-me a cabeça, mas saí na mesma. Fecho os olhos e o vento traz-me réstias de Tejo...não me importo de ter a cara molhada. Flutuo sem esforço, sem sair do lugar.

Não sei o que sinto, já não consigo sentir nada há algum tempo, demasiado. Passei do tudo ao nada...só queria sentir de novo, mas esta dormência não passa. Dobro a esquina e ali está ela. Não fixei a imagem em película, não lhe quis tirar nem uma imagem, ela já tem tão pouco. Está ali ao frio, não sorri, eu sorrio, ela sorri de volta. E de repente sinto-me pequena, nem chego a ter o tamanho das gotas que ocupam os meus olhos. Sinto-me uma criança que se queixa porque quer mais um brinquedo...Não é porque há quem não tenha uma casa ou um prato de comida, que a nossa dor é menor ou sequer passa, mas relativizei. Tudo ficou claro naquela fracção de segundo. O ser humano está talhado para ultrapassar mais do que imagina. Ficamos sem ar, mergulhamos num buraco sem escada para subir de volta, ficamos sem sentir ou sentimos tudo a dobrar, às vezes até abrir os olhos custa. Mas abrimos. A realidade é que quando parece que damos tudo, tentamos tudo, o nosso melhor está ali e não atingimos o que queremos...já estamos a conseguir sem sequer perceber. Evoluímos e só algum tempo depois, afastados, é que vemos o resultado.

Há meses aprendi sem livros que a vida é como o mar. Tem ondas que apanhamos, ondas que nos arrastam, ondas que nos enrolam e nos fazem engolir água, ondas que são perfeitas para surfar, ondas calmas que nos embalam...e às vezes é calmo, sem ondas. E o mar é lindo não é? E irresistível, assim como a vida.

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