O copo de vinho que tenho na mão teima em ser cheio várias vezes e eu nem noto. Levanto-me e vou lá fora. As palavras de quem está comigo soam a falso alarme, falta ali qualquer coisa. Falta eu estar ali, não estou e por isso pago e saio. Desço a rua com o passo de quem acabou de se levantar. O frio aperta-me os tornozelos como que a dizer que já não tenho idade para andar só de collants em Dezembro. Paro e olho à volta. Uma semana antes estava com as minhas pessoas e agora estou ali. A rua vazia e eu no meio da estrada. Não há carros, não há pessoas, só eu e o frio. Fico ali nem sei bem quanto tempo. A sombra já passou, estico a mão e apanho o táxi. ‘A menina não tem frio?’- tenho, mas não no exterior- ‘Sim, está frio’. ‘Mas tem ou não?’ – não me apetece responder a verdade – ‘Sim tenho’. A Bica abarrota de gente, sigo para o Bairro. Estou ali e nem sei onde encaixar, hoje estou difícil de encaixar. Os tornozelos...porra! Subo como se estivesse no meu elemento. Amigos, beijinhos, olás, sorrisos e pessoas de sempre ali pairam como sempre. Há pessoas que pairam, outras que estão. O fumo enche-me as narinas mas é a única forma de conseguir uma bebida. ‘Sabes que és bonita?’ – olho à volta – ‘Sim tu’ – olho mais uma vez à volta – ‘Tás a olhar para onde? Sim, estou a falar contigo, és bonita.’- ... – ‘Obrigada, com licença’. Não lido bem com elogios, pode ter a ver com não receber muitos ou apenas com a minha timidez extrovertida. Olho para a mala, carteira, olho lá para fora e sorrio. Acabo de descobrir que há olhos que me tiram o frio.
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