Ser Cucha

Há dois dias atrás quando cheguei a casa sentei-me a jantar com a família. Pelo que percebi a tvi iniciou uma nova telenovela e a minha mãe estava a vê-la. Ligo bastante a tudo o que se faz na área da representação. Não faço distinções, não sou moralista quanto a isso, há boas coisas a passar na tv e más, há que saber distingui-las. Com o tempo aprendi a apreciar argumentos sem ligar a quem está a representar ou em que canal eles estão a passar. É óbvio que não vejo uma novela com a mesma atenção que dou a um filme ou peça, mas às vezes dou por mim a dar o dobro da atenção, porque há realmente coisas bem escritas na tv em Portugal. Poucas, mas há.

Neste caso não conheço a história, porque o que me prendeu a atenção foi a presença duma actriz extraordinária. Chama-se Cucha Carvalheiro e a ela devo muito. Passou pela minha vida durante um ano e deu-me a maior lição que uma – na altura – aspirante a actriz pode ter. E ofereceu-me esse conhecimento com uma humildade muito própria, mostrando que um bom actor não interpreta a personagem, um actor é. E por mais simples que isto possa soar, é mais complicado do que imaginam. A Cucha é e sabe ensinar a ser. Não me esqueço que numa peça vibra com os seus alunos como se estivesse em palco e a força anímica que transmite. Anteontem vi-a mais uma vez em ‘acção’ e fiquei ali a olhar, como se a estivesse a ver pela primeira vez. É tão bom ver representar bem.
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