sexta-feira, 16 de maio de 2008

A travessia do Tejo

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Faço-a todos dias duas vezes, para lá e para cá. Desde miúda habituei-me a ir para Lisboa de barco e nunca me custou. Hoje é diferente. Há dias em que simplesmente não me apetece levantar da cama e passado pouco tempo já estar ‘em cima’ de água aos abanicos. A disposição com que chego às margens da capital depende muito. De quê? Das pessoas que vão no barco.

Já tive diferentes horários ao longo da vida, faculdade, teatro, trabalho, lazer…mas em todos eles há este factor comum, as pessoas. E acreditem que elas fazem toda a diferença. Por mais cansada que esteja, chego ao barco e lá estão elas, as de sempre. Da escola, do café, do trabalho, de amigos, de onde forem, mas acho que estão sempre lá. Os chamados ‘amigos do barco’.

Uma expressão que quem não anda de barco não devem nunca ter ouvido. São aquelas pessoas que normalmente não nos damos no dia-a-dia (por nenhum motivo em particular), damo-nos naqueles 25 minutos. Já discuti política, desporto, religião, espectáculos, livros, mas a maior parte das vezes discute-se vida. Porque estamos com aquela cara, perguntamos pela família uns dos outros, amigos, notas, trabalho e ás vezes até damos boleia quando chove.

Ontem eram 9:23 o barco estava mesmo a chegar, peguei na mala e desci as escadas (para quem não sabe o catamarã tem 1º andar). Tinha estado a dormir aquele pequeno tempo, embalada pelo rio e ao chegar lá abaixo olho em frente e vejo um dos grupos do barco das 9:00. São à vontade 10 ou mais pessoas, entre os 30 e os 50 e tal anos e estavam muito alegres na sua converseta.

De repente deu-me a espertina e apercebi-me que há momentos que vivemos e raramente reparamos neles. Como os do barco, em que já é tão natural sentar ao lado das mesmas pessoas e iniciar uma conversa animada.

O barco atracou e a porta abriu-se. Saí e corri para o comboio, de caminho ainda tive tempo de ouvir as pessoas do tal grupo a seguir em diferentes direcções com um ‘Bom trabalho, até logo’. Um até logo que sabem existir, mas que se não existir não há problema, porque afinal são ‘só’ amigos do barco.

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